terça-feira, 22 de março de 2011

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura das minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa (...)
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu passo a ti, pobre leitor.
E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:
"Io sonno un poeta o sonno un imbecile?"


(A vaca e o hipogrifo, Pausa - Mario Quintana)
segunda-feira, 14 de março de 2011

Me diz, então!


De repente me encontro em um labirinto
E fico a pensar …
Será que devo te deixar?
Será que devo apagar o que sinto?

Então, as perguntas me atormentam...
Acho que o amor nos encontrou.
As perguntas aumentam...
Ele me achou.

O que fazer agora...
Continuar a me esconder?
Esquecer?
Enlouquecer?

E assim, nosso amor vai se gastando...
vai se sumindo
vai se faltando

Quero tirar essa máscara feliz
Quero ver o que você diz
Quero saber como você faz
Me ensina, me mostra a sua paz!
sexta-feira, 11 de março de 2011


A violência de cá

Essa violência que eu vejo não é a mesma que você vê.
O barulho de tiros que eu escuto não vem do audio da TV.
Podes crer que a coisa é de verdade.
Para os daqui não há piedade

Pode crer...
Levar a vida por aqui não é fácil não.
Pois aquele que mata pode ser seu brother, seu irmão.
Mas quem, afinal é irmão de quem?
Aqui sim é a terra de ninguém.

É difícil lutar pela paz...
se a paz não vem pra quem precisa.
Enquanto todos na zona rica da cidade têm medo de uma criança que pede esmola.
Nós temos medo de nunca sair da gaiola.

Andar olhando pros lados...
Voltar do trabalho com os olhos arregalados.
Com medo de encontrar no caminho um corpo no chão.
Mais um irmão...

Quem mora na favela sabe...
Quem é pobre não tem perdão
O trabalhador que lá vive? Também não.
O pior é que ele não fez nada não!

Às vezes eu fico olhando a beleza que existe na minha favela.
E vem o silêncio a imaginar
E sinto medo...
Não posso abrir a janela pra respirar.

Angustiante é pensar que em bons tempos
Os portões desse lugar andavam abertos...
As crianças brincavam de tudo pelas ruas...
Eu andava de bicicleta por aí...
Hoje?
As crianças perguntam:
Porque eu não posso? Porque você fala isso o tempo todo?
Por que eu não posso correr?
Porque eu não posso respirar?

É difícil fazer com que nossas crianças não cresçam com isso.
É muito difícil cuidar de tudo isso.
Dou a ela o direito de viver ou de brincar?
Bom... então, fique a imaginar:
Qual é a maior violência?

Amanda Carvalho

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